Candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB) teve embates com todos os jornalistas que o sabatinaram no Roda Viva de segunda (2). Ele discutiu com Malu Gaspar quanto a uma reportagem que ela fez no jornal O Globo, cantou Diário de um Detento, do Racionais MCs, por cima de uma pergunta de Pedro Borges, do Alma Preta, e até ameaçou "levantar e ir embora" quando confrontado sobre a produção de cortes para redes sociais por Amanda Audi, da Agência Pública.
A jornalista havia pedido para que ele se concentrasse na conversa, e não na produção de conteúdo. A essa altura, Vera Magalhães, que comanda o programa de entrevistas da TV Cultura, já havia o repreendido por falar, reiteradamente, "faz o M" --parte de seu slogan de campanha.
"Pode responder [a pergunta] à vontade, mas eu acho que essa coisa de 'faz o M' no Roda Viva é meio descabido", reclamou a apresentadora. Logo depois, Amanda Audi trouxe à tona um episódio que Clarissa Oliveira, jornalista da CNN Brasil, relatou em seu blog.
No último dia 25, o empresário interrompeu uma pergunta da profissional e disse para ela "estudar um pouquinho". Depois do episódio, porém, o candidato procurou a apresentadora e pediu desculpas pelo seu tom, mas alegou que fez o que fez pelos "cortes". "Eu fiz isso mesmo", confirmou ele.
Amanda afirmou que isso implica numa "falta de conteúdo". "É muito assustador. Então, por exemplo, o senhor não costuma responder nem entrevistadores direito, nem outros candidatos. O senhor vai para entrevistas ou debates para fazer cortes, e não para falar de propostas...", disse ela.
O ex-coach afirmou que suas propostas estão disponíveis no site do Tribunal Regional Eleitoral. A jornalista disse que ele priva os cidadãos de terem acesso ao seu seu plano de governo --afinal, ninguém tem tempo para ler páginas e páginas de planos dele e de outros candidatos. Ele argumentou que basta acessar o site.
"Isso está embutido nesses próprios cortes. Não tenho fundão eleitoral, padrinho político... Está presidente e ex-presidente, cada um de um lado. Não tenho tempo de TV. Vocês vão ter que aturar os cortes. Mas, de novo: se vocês não gostam dos cortes, façam perguntas mais tranquilas", disparou.
A jornalista pediu para que ele respondesse as perguntas. "Eu estou respondendo do jeito que eu preciso responder, eu sou o candidato", disse. "Mas vamos esquecer os cortes?", reiterou ela.
"Não. Se for para esquecer os cortes, eu preciso ir embora. Eu posso levantar e sair. Eu não tenho marketeiro, eu não tenho dinheiro para pagar marketeiro para ficar contando piada, fazendo gracinha. Estou aqui com a cara e a coragem, igual todo mundo que quer vencer na vida. Você quer tirar a única coisa que eu sei fazer?", reclamou.
Vera Magalhães interrompeu o discurso justamente para "fazer perguntas sobre propostas". "Candidato, pode falar olhando para a gente. Desculpa estragar o seu corte, mas você está usando a entrevista para fazer os seus cortes. Então, fica uma coisa meio distópica. O senhor gosta dessa palavra, distópica", declarou. O empresário reclamou, mas a fala dele foi incompreensível devido ao volume do microfone.
"Ninguém quer mandar no senhor. A gente quer conduzir uma entrevista, bater um papo", reiterou ela. "Eu estou batendo um papo, mas preciso aproveitar o tempo que tenho de televisão", disse o influenciador. "Tá bom. Eu acho isso um pouco vazio", analisou a jornalista. "É só votar no Boulos!", sugeriu ele.
"Não, eu não vou votar no Boulos, candidato. Eu não sei em quem eu vou votar. Não é isso que está em discussão", rebateu a titular do jornalístico.
O primeiro embate entre jornalistas e convidado aconteceu logo no início do programa. Quando Malu Gaspar fez sua primeira pergunta, relacionada a um momento em que o candidato disse precisar ser um "idiota", porque "nossa mentalidade gosta disso", ele a rebateu com rispidez.
"Você fez a mesma coisa numa reportagem que você não fez pergunta nenhuma para mim no O Globo e falou que eu estava criando partido com o [ex-presidente Jair] Bolsonaro. Isso nunca passou pela minha cabeça", afirmou. Ela disse que perguntou, sim, e que tinha a mensagem para provar.
"E você fez isso por quê? Porque você queria chamar a atenção. Isso é uma invenção da sua cabeça", cravou ele. "Você está querendo me ensinar a fazer jornalismo? O senhor é coach, eu sou jornalista. Quando o senhor foi preso pela primeira vez, em 2005, eu estava cobrindo o Mensalão. Então, você não vai me ensinar a fazer jornalismo. Eu apurei", declarou.
Marçal ainda chamou Luiz Inácio Lula de Silva (PT) de "ex-ladrão" , e usou o termo "bunda mole" para se referir ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) por duas vezes. "Ele mesmo falou que o maior corruptor da história é o presidente que ele entrou na mesma chapa. Você falou com a sua boca que o Lula é pior do que bunda mole", afirmou.